Este vinho é produzido na ilha de Salina composta de duas pequenas montanhas (2 vulcões), por isso chamada de Didyme “gêmeos” na época antiga dos gregos que a colonizaram por volta de 580 a.C.
Ela se encontra no meio de um arquipélago (ilhas Eólias = ilhas do Deus Eolo) de belíssimas ilhas que encantam pelas suas características morfológicas, belezas naturais e de mar azul cobalto.
Famosa pela viticultura e antigamente pela extração de sal, por isto o nome de Salina.
Povoada a mais de 4500 anos, região portanto que produz vinhos a muito tempo, mas segundo uma pesquisa que fiz quando a visitei em Setembro (deste ano – 2017) o seu ápice sócioeconômico foi nos anos de 1800 quando quase totalmente a ilha era repleta de vinhedos, criando uma riqueza que era monopolizada e explorada por poucas famílias.
Tão grande era a produção naquela época que após a colheita saiam do porto de Salina diariamente mais de 70 navios para entregar o mosto a França, seu maior comprador.
Mas aqui mesmo tardiamente (1889) em comparação ao resto da Europa e da mesma Italia chegou a invasão da filoxera que em menos de um ano destruiu todos os vinhedos, deixando a ilha em colapso econômico, já que era a sua principal fonte de renda e não a pesca.
A forte imigração da população, junto com o desenvolvimento do turismo e a falta de mão de obra nestas aéreas inclusive de difícil viticultura levaram a um abandono gradual da agricultura. Somente nos últimos 15 anos houve uma forte recuperação dos plantios sob o impulso de alguns produtores teimosos ou realmente iluminados.
Aqui as vinhas sugam os nutrientes que encontram entre as estratificações de pedras vulcânicas, pedra-pomes, obsidiana e caulim que tornam o perfil aromático dos vinhos únicos.
Neste cenário bonito e propício se produzem várias tipologias de vinhos, entre ele a Malvasia delle Lipari, um dos vinhos de sobremesa mais famoso da Sicilia e da Italia, permitido ser produzido nas ilhas de Lipari (nome homônimo do vinho), Salina, Vulcano e Panarea.
Das visitas que realizei na ilha de Salina conheci (Gaetano Marchetta) proprietário de uma pequena Cantina o qual antes de me fazer provar os vinhos me relatou a historia da sua família.
Na época que a ilha estava bem economicamente o seu tio era um dos homens que mais lucrava com a venda das uvas e mostos. Mas com a chegada da filoxera e o colapso econômico o mesmo resolve vender todas as propriedades e vai trabalhar em um navio como capitão por muitos anos, mas sempre com o sonho de um dia voltar para sua terra natal. Ao longo dos anos de trabalho como capitão conseguiu juntar uma boa fortuna e aos poucos volta a recomprar as terras por ele vendida. Após reconstruir os seu vinhedos vem a falecer e o seu sobrinho Gaetano da continuidade ao sonho do tio e por isso que os poucos rótulos desta pequena cantina levam o nome de Il Capitano em homenagem ao tio. A minha sensação em provar os vinhos foi que estava junto com um vignaiolo (um verdadeiro viticultor), de aparências simples mas rico em história, trabalho, conhecimento, carisma e consciente de levar a diante uma tradição milenar. Entre os vinhos que ele produz provei por último um Passito de Malvasia delle Lipari.
Existem três versões : Malvasia delle Lipari Natural, Malvasia delle Lipari Passito (feita com uvas desidratadas) e Malvasia delle Lipari Liquoroso (com adição de álcool) todas elas confeccionada com a uva Malvasia branca e um pouco da tinta Corinto Nero que lhe confere uma “pintada” de cor especial.
Um vinho que independentemente da sua versão é sempre único e gentil na aromaticidade e na doçura.
Malvaisa delle Lipari Passito DOC 2015 Azienda Agricola Gaetano Marchetta
Cor – Límpido, transparente e de cor âmbar-alaranjado .
Perfume – No nariz é intenso, persistente, fino com toque de damascos maduros, tâmaras, cera de abelha, mel e pão doce.
Sabor – Obviamente doce mas jamais enjoativo, aveludado, complexo e equilibrado entre doçura e acidez. Vinho quente-solar de excelente corpo.
Um Passito que expressa a peculiaridade do território .
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