Passito di Pantelleria, um vinho que não me permite isentar a narração mesmo de forma resumida da história desta ilhota (Pantelleria-Pérola Negra do Mediterrâneo) e suas características.
Um território hostil, vulcânico, rústico, sem recursos hídricos, distante 108 km da Sicilia. Um perímetro costeiro de 78 km sem praias, somente penhascos com um mar blu de tirar o fôlego.
Lá venta 24 horas por dia, todos os 365 dia do ano causa pela qual muitos voos (a ilha possui aeroporto) são regularmente cancelados por “condições meteorológica adversas”. O vento castiga qualquer tipo de plantio, as oliveiras com um formado curioso de guarda chuva não ultrapassam os 80 cm, são testemunha de como é difícil sobreviver neste contesto mágico pelas suas belezas mas hostil pelas condições (conforme foto no banner).
Um território sofrido em sua essência, e por isto precisa mencionar que a ilha foi bombardeada a tapete em 9 de maio de 1943 na primeira operação militar dos aliados (codinome Corkscrew) na Italia antes da notória invasão pela Sicilia (tinha um burburinho militar que Mussolini tinha escondido armamento de guerra nesta ilha, numa mega gruta natural), já que a morfologia costeira impossibilitava também o ingresso pelo mar.
Assim como o pássaro mitológico greco (Fênix) a ilha renasce das cinza por obra da mãe natureza e porque antigos colonizadores deixaram construções, obras e costumes (metodologia de plantio das vinhas) indelével ao tempo e as adversidades. Exatamente neste cenário único os Dammusi (construção-moradia) os Giardini Panteschi (estrutura arquitetônica rural de forma circular) são frutos da engenharia de sobrevivência da civilização árabe em sua sabedoria, presente no mundo exclusivamente neste recanto do Mediterrâneo, assim como de obra árabe é a metodologia de plantio da videira.
A prática consiste no plantio da uva local Zibibbo (Moscatel de Alessandria) dentro de uma cava rasa (1 metro de diâmetro e aproximadamente 50 cm de profundidade) com 2 propósitos, um em protejer a videira em jovem idade dos ventos e o segundo propósito é concentrar o orvalho das manhãs no pé das mesmas, já que a ilha não tem nenhum recurso hídrico natural, as chuvas são aqui escassas devido ao vento.
Tudo isso e muito mais, rendeu em 2014 pela Unesco a inclusão na lista dos Patrimônios oral e imaterial da humanidade. Todos os vinhedos da ilha estão nas mãos de centenas de pequenos produtores familiares que entregam e vendem as próprias uvas maduras as vinícolas, inclusive para a maior de todas que é a Cantina Pellegrino. Conheço os produtos desta vinícola a quase três décadas mas só em 2017 conheci a estrutura que eles tem na ilha de Pantelleria e em 2018 conheci a sede principal na cidade de Marsala, cidade do homônimo vinho (Vino Marsala). Uma belíssima Cantina de grande conteúdo sócio-económico que possui também bons profissionais preparados para atender os visitantes mais exigentes.
Passito di Pantelleria DOP 2015 – Cantina Pellegrino
Cor – Ambar
Perfume – O seu bouquet complexo e intrigante nos remete imediatamente as fruta secas, figo seco, damasco e mel.
Sabor – De sólida estrutura, ótimo equilíbrio entre o açúcar e a notável acidez, as frutas presentes no nariz permanecem na boca de forma prolongada, resumindo um retrogosto prazerosamente cumprido.
Um vinho realmente feito com capricho, mantendo a tradição da tipologia mesmo que em escala maior de produção as suas qualidades são sempre respeitadas e mantidas. É sempre segura a qualidade desta cantina em todos os seus rótulos e não é diferente neste Passito que pode ser degustado sozinho ou em companhia de uma clássica sobremesa siciliana.
A “meditação” é quase uma obrigação para quem toma um vinho desta tipologia, a essência da ilha esta mantida neste ELIXIR.
Classificação no blog: Il VINO (em consideração ao seu baixo custo na Italia e sempre com as mesmas qualidades)