Etna, um território enologicamente complexo que por um conjunto de fatores geológicos, biológicos, geográficos e climáticos o tornam único e incomparável. Com uma elevação de 3350 metros e uma extensão aproximada de 1200 km² (o vulcão ativo mais alto da Europa) é visível a 250 km de distância e por isto antigamente era usado como ponto de referência na navegação por parte dos marinheiros sicilianos e dos navegadores do mediterrâneo.
Um território em constante mutação devido a séculos e séculos de erupções (fluxos de lavas) sobrepostas de fenômenos vulcânicos distintos que contribuíram na formação de solos ricos e numericamente diversificados. Até o ano de 1900 o cume da montanha era constituído por uma cratera principal, depois se formaram novas crateras importantes (cratera norte-est, voragine, boccanuova, cratera sul-est, nuova cratera sul-est) mas na sua inteira extensão existem mais de 300 pequenas crateras secundárias, algumas envoltas por pequenos bosques constituídos por espécies de plantas endêmicas. Nas variadas encostas (repletos de pequenos vinhedos) de seus 4 lados/4 versanti especialmente no verão existe uma grande excursão térmica entre o dia e a noite que chega normalmente a 30 graus de diferença, fenômeno este notório para a formação de bouquet complexos nos vinhos. Devido a proximidade do mar (versante est) e a sua altitude, existe uma pluviosidade significativa durante o ano todo mesmo na época da seca diferente do restante da Sicilia (chove de 6 a 10 vezes mais que no restante da ilha), isto influência notavelmente as colheitas que por se tratar de um amplíssimo território as mesmas reservam resultados diferentes. Devido a sua complexidade ambiental, belezas naturais, fauna e outros fatores em 2013 foi incluída ao patrimônio da humanidade (Unesco).
Neste contexto aparentemente hostil quase lunar mas de complexa riqueza física e mineral estão presentes várias vinícolas serias todas empenhadas substancialmente no cultivo das castas tintas locais-autoctonas Nerello Mascalese e Nerello Cappuccio e das brancas Carricante, Catarratto e Minnella para poder confeccionar, abastecer a primeira DOC da Sicilia (1968), o Etna DOC. Uma enologia heróica baseada no profundo respeito das constantes ameaças vulcânicas, tradições e práticas de cultivos (alberello e per propagazione) por isso precisa mencionar que nesta região alguns cultivatores pequenos ainda praticam a séculos o plantio por propagação da videira. Veja foto ilustrativa (um dos galhos da videira é enterrado a cerca de 80/100 cm da planta mãe, depois de algum tempo a parte enterrada desenvolverá suas próprias raízes, neste momento ele será cortado e destacado da planta mãe, formando assim uma nova videira.
Vale ressaltar que no Etna alguns produtores possui vinhedos que sobreviveram a filoxera, considerado um privilégio, um tesouro para poucos. Aqui os vinhedos mais alto da Italia (junto aos vinhedos da região do Alto Adige) e do mundo estão sendo cada vez mais procurados por investidores sicilianos, italianos e internacionais que intenderam definitamente que os vinhos aqui produzidos trazem algo de muito diferente dentro do panorama siciliano e italiano. Com as castas locais, Nerello Mascalese e Nerello Cappuccio dentro do seu lar se produz vinhos tintos muito elegantes, sutis, finos de cor pouca pronunciada, vinhos estes parecidos, similares por alguns aspectos aos Pinot Noir da Borgonha e por estrutura ao Nebbiolo do Langhe no Piemonte. Enquanto as castas brancas autoctonas citadas anteriormente servem para confeccionar vinhos” minerais” de extrema elegâncias e finezas. Entre os produtores que mais se destacam no Etna, pelo tempo, trabalho e resultados, vale citar o Tenuta delle Terre Nere que a mais de 30 anos com sede no norte do vulcão colabora para a elaboração de vinhos procurados pelas melhores adegas do mundo por referência de identidade de um terroir.
Esta vinícola possui até o momento vinhedos em 6 frações-pequenos distritos que no Etna são chamadas de Contrade que da origem aos vários crús da empresa, além dos “vinhos de entradas” que são os Etna Bianco e Etna Rosso, vinho este último que comentarei nesta matéria. As uvas deste Etna Rosso colhidas em outubro provem de vinhedos jovens e velhos (entre 7 a 50 anos) de produção limitada com uvas de altas qualidades.
Depois da fermentação alcoólica e malolactica de forma espontânea, o líquido estagia em grandes barris de carvalho francês por um ano ou até mais, conforme o critério do enólogo.
Etna Rosso DOC 2017 – Tenuta delle Terre Nere
Cor – Rubi bem lúcido
Perfume – Imediato sentor de frutas pequenas vermelhas como a de morangos selváticos, sementes de romã e flores campestres.
Sabor – De fina estrutura, corpo médio, acidez e taninos na medida certa em equilíbrio com a fruta vermelha bem refinada e não corriqueira.
Prazerosamente fino, elegante e refinado, mantendo na sua essência as características da casta Nerello Mascalese em seu “habitat natural” o Etna. Um vinho “fatto benino” perante os outros rótulos da vinícola.
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